quarta-feira, 22 de junho de 2011





nos santos populares beija-a. ou é ela. nos santos populares, de madrugada, não há beijos urgentes. são naturais como os milagres dos santos populares. porque é que ele treme? encontra o lábio dela, os dentes, a língua dura e perscrutante. a saliva dela sabe bem: alecrim, alcachofras, hortelã. quando se afasta ligeiramente, vê-lhe a boca. ela sorri um sorriso de triunfo, sucesso, patifaria, enlevo, deleite. está a divertir-se. é muito excitante este sorriso. ela beija a sorrir. continuam. mais húmido, mais fundo, mais trocado. à medida que o beijo vai crescendo a cara dela transfigura-se. agora, quando ele de novo recua para perceber a cara que beija, encontra-a com os vincos da dor. e embora não a conheça, beija-a pela mulher que é e pela mulher que pressente nela.
nunca se sabe como acaba um beijo. aquele foi em lágrimas copiosas.


(luís januário - um beijo nos santos populares, 2005)

3 comentários:

the dear Zé disse...

pela imagem, a coisa acabou em apoteose ( e agora fiquei com vontade de ler o resto)...

henedina disse...

“Como perdem depois a urgência , os beijos?”
Começa assim e isto é o fim.

Anónimo disse...

dear Zé, ver texto n'a natureza do mal.

http://anaturezadomal.blogspot.com/2005/06/um-beijo-nos-santos-populares.html#links

(filipa)