na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.
na minha terra, não há árvores nem flores.
as flores, tão escassas, dos jardins mudam
ao mês,
e a câmara tem máquinas especialíssimas
para desenraizar as árvores.
o cântico das aves – não há cânticos,
mas só canários de 3º andar e papagaios de
5º
e a música do vento é frio nos pardieiros.
na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na pérsia ou na china,
ou em países inefáveis.
a minha terra não é inefável.
a vida na minha terra é que é inefável.
inefável é o que não pode ser dito.
(jorge de sena – os paraísos artificiais,
1950)
3 comentários:
seguramente, um de entre os 5 poemas da minha vida
meu também.
beijinhos, Alexandra.
be safe and be well.
também tu, minha linda, e os teus :*
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